Matéria da Revista Exame, deste final de semana, assinada pelo jornalista André Faust, informa que a TAM começou a operar na última quinta-feira (04) voos comerciais regulares entre Congonhas (SP) e o aeroporto de Comandatuba, em Una, litoral sul da Bahia. Segundo a matéria, "mais do que apenas um novo capítulo da história recente da expansão do serviço aéreo, o evento veio carregado de simbolismo. Trata-se da primeira e única operação da TAM em um aeroporto privado do país".
O interesse comercial do aeroporto de Comandatuba - que pertence ao Hotel Transamérica - em atrair voos comerciais - um passo importante para acabar definitivamente com as chances de sobrevivência do Aeroporto Jorge Amado, em Ilhéus - foi denunciado, ano passado, em primeira mão, pelo site Jornal Bahia Online. Naquela oportunidade, foi denunciado pelo site que as duas mais importantes empresas aéreas que operam no Aeroporto Jorge Amado, em Ilhéus, haviam entrado com o “Pedido de Slot” (definição técnica para permissão para pousos e decolagens) afirmando que pretendiam transferir pelo menos quatro vôos semanais de Ilhéus para o Aeroporto de Comandatuba.
O texto do JBO informava ainda no ano passado, que a medida, caso se concretizasse, serviria como a “pá de cal” na crise que toma conta do Aeroporto Jorge Amado que há mais de um ano não opera por instrumento e, por conta disso, reduziu drasticamente o seu número de vôos, passageiros e cargas. Com a perda de mais quatro voos, a situação ficaria insustentável.
A denúncia do JBO chegou a ser considerada absurda e desmentida pelo diretor da Infraero em Ilhéus, João Bosco Bezerra, que chegou a chamar o site de "desinformado". Ele dizia que, por ser um aeroporto particular, o de Comandatuba jamais poderia reivindicar o direito de operar comercialmente. "No dia que fizer isso ele fecha", disse.
Não fecha não, doutor Bosco.
Com um repórter dedicado exclusivamente a acompanhar as "movimentações" das autoridades ligadas à aeronáutica no sul da Bahia, o Jornal Bahia Online também publicou no ano passado que a agência Nacional de Aviação Civil (Anac), através da Superintendência de Infraestrutura Aeroportuária, havia renovado o registro de funcionamento do Aeroporto de Comandatuba, pelo período de cinco anos. Publicou e apresentou o documento que comprovava a denúncia.
O Jornal Bahia Online apurou que a renovação ocorreu, sem nenhum estardalhaço, no segundo semestre de 2009 e foi assinada pelo superintendente Rodrigo Ferreira de Oliveira. Em um dos trechos do decreto, a Anac garante que o aeroporto de Comandatuba possui condições operacionais para voos diurnos e noturnos, diferentemente do que ocorre, hoje, no aeroporto de Ilhéus.
A matéria publicada esta semana pela revista Exame lembra que o Aeroporto de Comandatuba recebia, até pouco tempo, apenas voos fretados e de táxi aéreo. "A 40 quilômetros dali, no aeroporto Jorge Amado, administrado pela Infraero na cidade de Ilhéus, a notícia foi recebida com pouco entusiasmo. Há meses, circula o rumor de que o Jorge Amado, um dos três aeroportos mais perigosos do país, com problemas na pista e equipamentos precários, pode perder voos para o aeroporto privado vizinho. Enquanto Comandatuba possui infraestrutura de ponta, Ilhéus está impedido de operar por instrumentos há mais de um ano. Os pousos só ocorrem se houver contato visual com a pista".
No ano passado, o JBO alertou para a manobra e os investimentos que vinham sendo feitos em Comandatuba. O pedido para uso de voos comerciais coincidiu com uma série de medidas técnicas e administrativas adotadas silenciosamente pelo Hotel Transamérica. Segundo uma fonte, que preferiu não ser identificada, o aeroporto de Comandatuba adquiriu uma nova viatura para o Corpo de Bombeiros, reformou as instalações do seu terminal de passageiros, ampliou os sistemas de iluminação e climatização e fechou toda a área que circunda a pista principal do aeroporto particular.
Na matéria desta semana, o jornalista André Faust destaca que o Aeroporto Jorge Amado, em Ilhéus, é mais um exemplo de aeroporto público com graves problemas de gestão e infraestrutura - e que mantêm o país sob constante ameaça de apagão aéreo. "Dos 67 aeroportos adminstrados pela Infraero, estima-se que apenas 11 operem com lucro. A situação não é muito diferente nos outros 670 aeroportos públicos brasileiros. Em abril, o governo promete finalmente apresentar o marco regulatório que define regras para a concessão de aeroportos à iniciativa privada. Em todo o país, apenas 17 aeroportos públicos, todos de pequeno porte, são administrados de alguma forma por empresas", afirma.
Logo quando a JBO publicou as denúncias - que agora se confirmam por completo - os seus repórteres tentaram, por diversas vezes, um contato telefônico com as gerências das duas empresas na cidade. Coincidentemente, a resposta foi sempre a mesma: “o chefe ainda não chegou”.
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